quinta-feira, 29 de julho de 2010

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O andar do bêbado. O acaso, cervejas e muita sorte... Uma reflexão para todos.

Você é homem, americano, branco, heterossexual e não usa drogas. Corre o ano de 1989. Faz um exame de sangue, desses descompromissados e, após alguns dias, recebe a notícia: HIV positivo. O médico sente muito, mas a morte é inevitável. Se quiser, você pode fazer outro exame, mas a chance de que não esteja contaminado é bem pequena: uma em mil.

Aconteceu com Leonard Mlodinow, físico do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) que já havia escrito o livro "Uma Nova História do Tempo" com Stephen Hawking. "É difícil descrever (...) como passei aquele fim-de-semana; digamos apenas que não fui à Disneylândia", escreve em "O Andar do Bêbado", seu novo livro, recém-lançado no Brasil.

Talvez o médico de Mlodinow fosse ótimo. Mas não serviria como estatístico.

Isso porque, em 1989, nos EUA, uma em cada 10 mil pessoas nas condições citadas estava infectada pelo HIV. Imagine que essas 10 mil fizessem exames. O único soropositivo receberia, possivelmente, uma notícia ruim. Mas, como um em cada mil exames dá o resultado errado, dez pessoas saudáveis também a receberiam.

Ou seja, nessas condições, de cada 11 pessoas que recebiam o veredicto "HIV positivo", apenas uma realmente estava contaminada. A porcentagem de "falsos positivos" é dez vezes maior que a de "verdadeiros positivos". Faria, então, mais sentido que Mlodinow não deixasse de ir à Disneylândia. No final, soube que não tinha HIV.

Mas dificuldades com probabilidades não são exclusividade do médico de Mlodinow. Humanos desprezam a presença do aleatório nas suas vidas - nossos cérebros são programados para achar padrões, mesmo quando não existem.

Isso vai desde coisas evidentemente desprovidas de sentido (como usar uma mesma meia velha em jogos do Brasil) até situações mais sérias.


Jegue estabanado

Nesse sentido, é muito comum considerar que sucessos ou fracassos são resultado exclusivamente da nossa competência. Em boa medida são, claro, mas quanta aleatoriedade está envolvida nisso?

Jogadores, vendedores, homens atrás de mulheres nas festas. Quase todas as atividades humanas estão sujeitas ao acaso. Os resultados se distribuem ao redor de uma média (alta, para quem é competente), mas existem dias bons (quando o centroavante faz três gols e se consagra) e dias ruins (quando o "pegador" volta pra casa sozinho).

Mas isso vale também para o mercado financeiro, por exemplo. Será que os investidores que ganham milhões na bolsa o fazem porque são competentes ou porque, em uma série determinada de anos, tiveram mais sorte -fazendo escolhas tão "chutadas" quanto muitos que tiveram menos sucesso?

Como exemplo, Mlodinow conta a história de Daniel Kahneman, psicólogo que em 2002 ganhou o Nobel de Economia. Como não se escolhe trabalho no começo da carreira, ele foi, nos anos 1960, ensinar aos instrutores da Aeronáutica israelense que recompensar funciona melhor do que punir erros.

Foi interrompido por um dos instrutores que o ouvia. Ele dizia que muitas vezes elogiou a manobra de um aluno e, na vez seguinte, o sujeito se saiu muito pior. E que, quando gritou com a besta que havia quase acabado de destruir o avião, ela melhorava em seguida. Os outros instrutores concordaram.

Estariam os psicólogos errados? Kahneman concluiu que não. Apenas que a experiência dos instrutores estava relacionada com a probabilidade.

A ideia dele era que os aprendizes melhoram a sua capacidade aos poucos, e isso não é perceptível entre uma manobra e outra. Qualquer voo perfeito ou qualquer pouso que leve embora meio aeroporto junto são questões pontuais, desvios da média. Na próxima tentativa, é alta a chance de que se retorne ao "padrão" central -nem fantástico, nem desastroso.

Então, diz Mlodinow, quando os instrutores elogiavam uma performance impecável, tinham a impressão de que, em seguida, o aluno piorava. Já se ele, digamos, esquecia de baixar o trem de pouso e escutava um grito de "seu jegue estabanado", na próxima melhorava.

A pergunta por trás do livro é até que ponto não nos deixamos enganar por desvios da média como sinais de competência extrema ou de falta de aptidão para a vida. Quando um ator é descoberto de repente, após anos de fracasso, como Bruce Willis, ou quando alguém ganha muito dinheiro em poucos anos, como Bill Gates, qual foi a importância de estar no lugar certo, na hora certa? O andar do bêbado, sem direção consciente, acaba sendo uma ótima metáfora para os caminhos que tomamos na vida.

Ricardo Mioto

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O QUE HÁ

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

terça-feira, 6 de julho de 2010

Eu adoro voar...

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.

Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.

Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.


Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!




Clarice Lispector