quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Livro - Cachaças Capixabas - Sabores do ES

Meu último livro foi lançado ontem, dia 29 de setembro, no Hortomercado em Vitória. Como o Sebrae é quem cuidou disso, acabei recebendo a informação já às vésperas do evento. Resultado: muitos amigos que gostaria de ter convidado, ficarm de fora! Mil desculpas!!!
Mas para os interessados, vale a pena conhecer o material e os 27 rótulos capixabas que formam o escopo do livro, realmente me surpreendi com algumas das cachaças capixabas que degustei durante o trabalho.
Abaixo segue uma pequena bibliografia, que aliás está no meu livro, para os interessados em conhecer mais o tema. Tomei-a emprestada do cachacier Mauricio Maia:

Uma Pequena Bibliografia da Cachaça


A presença da cachaça na literatura brasileira sempre foi intensa, isso todos sabemos. Mas faz alguns anos que diversos livros especializados em nossa bebida têm chegado constantemente às prateleiras das livrarias. Abaixo a minha lista com observações sobre cada um. Alguns podem ser encontrados em livrarias, outros, provavelmente só em sebos. Boa leitura!

Fabricação Artesanal da Cachaça Mineira
José Carlos G.M. Ribeiro
* extremamente técnico

O Essencial em Cervejas e Destilados
José Ivan Santos e Robert Dinham
* apesar de não ser específico sobre cachaça, é bem interessante

Prelúdio da Cachaça
Luís da Câmara Cascudo
* indispensável, é a bíblia.

Cachaça – Prazer Brasileiro
Marcelo Câmara
* neto de Câmara Cascudo. A cachaça provavelmente estava na água do batismo.

Álcool Etílico – Da Cachaça ao Cereal
Luiz C.H. Macedo
* técnico porém esclarecedor.

Guia Oficial da Cachaça – Anuário Brasil 2005
* farta relação de produtores de todas as regiões do país

Cachaça – Um Amor Brasileiro
Alessandra Garcia Trindade
* livro muito bonito. Para deixar na mesa da sala.

Cachaça Artesanal – Do Alambique à Mesa
Ateneía Feijó e Engels Maciel.
* boa pesquisa e fácil leitura.

O Mito da Cachaça Havana – Anísio Santiago
Roberto Carlos Moraes Santiago
* neto do mestre Anísio Santiago, o autor nos mostra toda a história da cachaça, e fatos inéditos sobre a bebida produzida por seu avô.

Cachaça – O mais Brasileiro dos Prazeres.
Jairo Martins da Silva
* bem completo e de fácil leitura

Manual da Cachaça Artesanal
Eduardo Gravatá
* técnico e completo. Deve constar em qualquer biblioteca.

A Revolta da Cachaça
Antonio Callado
* literatura brasileira de 1ª qualidade

Cachaça
Mario Souto Maior
* este também é indispensável

Dicionário Folclórico da Cachaça
Mario Souto Maior
* com prefácio de Carlos Drummond de Andrade este livro apresenta mais de 3.000 sinônimos para a cachaça, para o beberrão e para o ato de beber. Delicioso.

Cachaça – A Bebida Brasileira
Erwin Weinmann
* acabamento primoroso. Parece um livro de arte. Mais um para ficar sobre a mesa.

Para não sair do tema, o revés da moeda

O amor acaba


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.


Paulo Mendes Campos

A estrela da Ursa Maior - amei esse texto, vale a pena!

Para falar tudo: a vida não começa quando se nasce. Começa quando se ama. Romantismo à parte, só adquirimos a consciência de nós mesmos quando, sempre de repente, sem aviso prévio, sentimos que alguma coisa mudou no mundo, na noite e no dia, na luz e no vento, mudou tudo dentro da gente: estamos enamorados.

É ainda um anúncio, preview de alguma coisa que pode ser o tesão, o caso, o rolo, o equívoco. São variantes para o grande programa que é o amor, síntese de tudo que foi fragmentariamente anunciado. Amante é um ofício. Namorado, uma vocação.

Há amantes que não se namoram. E namorados que não são amantes. O amor é escravo do tempo, precisa de tempo, nasce e pode morrer com o tempo. O namoro - introdução que não introduz - está além e acima do tempo. O amor é faminto: quanto mais curto, mais longo cria o olvido (o verso é de Pablo Neruda). O namoro é a sedução, a aproximação do abismo quando ainda é possível a volta, mas não o retorno. Depois do namoro, não importa o rito ou ritmo que o marcou, já não somos os mesmos.

Melhor do que tudo: o amor exige exclusividade, "amor, ch'a nullo amato amar perdona" (o verso é de Dante). Nunca é infinito nem imortal  porque, no fundo, é o amor de nós mesmos em outro corpo. O namoro, sim, é largo, sem margens e sem a urgência das horas. Amamos a uma só pessoa. Podemos ser namorados de muitas.

No poema famoso, o já citado Neruda, poeta maior dos namorados (não dos amantes), descobre que pode "escrever os versos mais tristes esta noite". É a tristeza peculiar do namoro, não do amor. O namoro é vago como a estrela da Ursa Maior, cada qual incompleto e, por isso mesmo, único, inacabável.

Há suicidas do amor não correspondido, do amor traído. O namoro é convite à vida, véspera de nós mesmos. E quando acaba - ao contrário do amor que deixa o gosto de liberdade-não-desejada na boca - sabemos ser justos para nós mesmos e nos eternizamos com aquele verso do sempre citado Neruda: "Já não a amo, é certo, quanto porém a quis!"


Carlos Heitor Cony